Wednesday, March 14, 2007

Mar Português



Mar Português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma nao é pequena.
Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu.

"Fernando Pessoa"

As palavras, dizia Pessoa, são etiquetas que se colam às coisas. O poeta da angústia existencial, da depressão, da melancolia, percebeu a crise da Humanidade e utilizou isso como matéria-prima essencial da própria escrita, da própria vida.


No poema o MAR PORTUGUÊS, o mar é simultaneamente espelho e abismo, onde a alma se perde no sonho e depois do sonho se reflecte num projecto de futuro esplendoroso porque plenamente espiritual e desligado da terra.




O poeta, o génio, reconhece que nada mais há a buscar no mar físico, mas que resta a exploração do mar espiritual.

Um primeiro ciclo exauriu-se: o da descoberta do mar. Um novo ciclo se anuncia: a segunda vinda, a descoberta da alma, do mar espiritual.
É a água, o elemento água, a paz, a solidão, a reflexão, o contínuo movimento de renovação e desafio que permite a revelação da profecia.

É a água que simboliza a latência do sonho, a água nua, despida e apenas espelho ou abismo, que mostra e que esconde. Combinação proibida de opostos.
O sofrimento e a dor marcam a viagem ás ilhas afortunadas da alma, porque nenhuma grande descoberta se faz sem sacrifício de monta e relevo.
Em Pessoa há a revelação de uma verdade interior, reservada a quem empreenda a viagem sem destino que é perder-se de si mesmo.

Pessoa percebe, alcança longe, mais longe que o tempo e o espaço de que dispõe, que o começar da nova aurora neste Império Espiritual é algo mais do que a presença diáfana de um vasto território dominado por uma só língua e um só povo, é antes um horizonte sem fim em que se atinge a irmandade dos homens, a paz intemporal.
Este poema, este poeta, são exemplo de como podemos ser GRANDES, de como nos basta a alma, para impôr vontades, valores e verdades.

Apetece-me acreditar que o Mar Português, está latente em todos nós, e que um dia, libertos dos medos dos monstros e do abismo que o mar eventualmente reflecte, veremos apenas o brilho do sol e da lua espelhados na alma.


Maria do Mar






7 comments:

Anonymous said...

fico contente que a minha postagem lhe tenha servido de inspiração. muito bem escrito, nem outra coisa seria de esperar.nota-se um evolução constante. já me interrogo: onde irá parar a Maria do Mar?

Anonymous said...

"Apetece-me acreditar que o Mar Português, está latente em todos nós, e que um dia, libertos dos medos dos monstros e do abismo que o mar eventualmente reflecte, veremos apenas o brilho do sol e da lua espelhados na alma."
Gostei de uma forma muito especial desta última parte, vá-se lá saber porquê, mas suspeito que seja pelo conteúdo que se pode tirar das entrelinhas.

Anonymous said...

Olhe, já agora procure um livrinho pequeno do génio, onde ele escreve umas enormes cartas de amor à namorada.
Verá que fica ainda a gostar mais de Pessoa.
Sabe que no tempo do Estado Novo, esteve poema constava de um livro de leitura, penso que da quarta classe?
Ele há cada coisa.

Uma dentada amiga

Anonymous said...

Só fardas neste blogue? Fetiches?

Vladimir said...

Para si o que é o destino?

Maria Do Mar said...

Caro Vladimir,
Agradeço embevecida os honrosos elogios traçados à minha humilde escrita, no entanto, apesar de ser leitora assídua do seu blogue e apreciar bastante os textos que tem vindo a publicar, pergunto-lhe, de onde inferiu que este meu texto tenha sido "inspirado no seu"?
É possível que tenha sido, ou não ... A dúvida paira no ar...
Continue a honrar este meu pequeno mundo com a sua presença.

Maria Do Mar said...

Caro Jacaré,

Conheço alguns textos (cartas)do livrinho de que fala, e aprecio bastante. Quanto ao facto do poema "Mar Português" fazer parte do programa curricular da quarta classe, desconhecia, mas desconfio que não se perdia nada em incluí-lo de novo ... Cultura nas escolas? Nãm, ficamo-nos pela matemática, Português e mal...

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